sábado, 23 de janeiro de 2010

Não falo do amor romântico,
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão,
paixões tristes.

Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida,
explicada, entendida, julgada.

Pensam que o amor já estava pronto,
formatado, inteiro, antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim,
que o amor manifesta.

A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído,
inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.

Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?

E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta?
O amor é o desconhecido.

Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.

A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação
O amor quer ser interferido,
quer ser violado,
quer ser transformado a cada instante.

A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
decidimos caminhar pela estrada reta.

Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
e nós preferimos o leito de um rio,
com início, meio e fim.

Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.

Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha e
nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
como se fossem novas estrelas recém-nascidas.

O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
o amor grita seu silêncio e nos dá sua música.

Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor,
se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.

E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
me aventurando ao seu encontro.

A vida só existe quando o amor a navega.

Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita.
Ou melhor, só se Vive no amor.

E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

Vênus - Paulinho Moska



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