Olhos tão mendigos de poesias, os teus. De longe, tão perto, parecem me contar do tamanho do mundo. Tanto mundo. Caminhos. Numa curva, você. Não sei de onde nasceu teu caminhar que rabisca versos no chão por onde passa. Muito me envergonha a vontade de sair catando-os. Todos. Inevitável abraçar meus pensamentos quando eles resolvem se entranhar na tua ausência-presente. É um estar em mim, igual ou maior que o do poeta. E você sempre me disse que os poetas carregam malas de ilusões. É, eu lembro. Lembro da crença de que poesia é fingimento. Eu finjo, também.
Na minha mala? Sonhos. Em conta-gotas, todos. Eu sempre deixei pingar aos poucos. Quando te conheci, doses maiores se tornaram recheio, mas resolvi não explicar. Tentei preservar o tom natural do meu olhar que só queria saber de brilhos. Na rede branca na fazenda, contando estrelas, o balançar do você e eu parecia entoar, quase que sussurrando, delírios de um trovador que você não sabia ser. E era. Num improviso, ou em dois.
Gosto quando você me conta do meu riso frouxo, e da pose de tresloucada que entrego. Finjo que acredito nas tuas histórias, ao cair da noite, enquanto me faz um cafuné e diz que a lua se move inteira só pra mim. Mal sabe você que consegui enxergá-la em teus olhos, quase num desvario. Dizem que quando se vê os astros, no outro, transtorna-se de amor-maior.
Ainda ontem, tentei te escrever. Em pequenas porções de palavras, tive você, a granel. Lembrei de mim. Do meu eu, quando na tua presença. Do teu jeito de me fazer parecer alguém que nem sei quem sou. E me embriagava o infinito, nessa hora. A proximidade do céu, fazia-o parecer meu chão, de tanto querer-bem que me sobrava. Tinha cheiro, também. Mas sempre julguei impossível definir outonos que fazem do inverno uma primavera de veraneios. Coisa mais inefável, o cheiro do teu riso. Puro. Sem malícia.
Voltei à escrita. Eu fui feita sob medida para os carinhos teus. Foi a frase. A única que escrevi, naquele papel que implorava carícias. E depois a vida ficou esquecida, como aquele romance aberto que a gente deixa em cima da estante, prometendo uma leitura que nunca acontece. Ainda assim, existia um anelo na escassez de letras. As palavras-doces, engoli todas. Daquela maneira que se engole um copo d’água no meio da noite escura. E na minha sede, te bebi inteiro.
Acordei carregando nos lábios um gosto de beijo apressado. E notei, sem querer, que repousávamos distraídos no mesmo sonho.
- O verde, tá aceso. – você disse, abrindo os olhos, ao meu lado.
Não apaguei.
jaya magalhães
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