segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Eu te amo. E o meu amor não tem importância alguma.
Ele não desloca nenhum pássaro, flor, folha, galho, nenhuma massa de ar.
É imperceptível. Ninguém me sente o coração batendo. É apenas uma paisagem interna.
Meu amor é algo que atravesso. Não quero que ele um dia cristalize.
Nem que se tranforme em tristeza. Ou se torne amargo.
Por isso, eu o atravesso. Continuo a atravessá-lo. Eu me atravesso a mim.
Como quem desaparece dentro da chuva, ou na claridade bruta.
Com vento de tempestade dentro. Arrancando todas as folhas.
Com o ruído agudo que se escuta quando um leão beija com cuidado um pássaro caído, para não machucá-lo: eu te amo.
Eu resvalo por esse lugar perigoso: o meu amor.
A todo momento, essa mulher que me atravessa precisa de se lembrar de si, e de mim, e da paisagem inteira, e percorrê-la de volta, sem provisões e sem mapa.
Para que seu amor finalmente se explique, e revele a substância de que é feito: a menina que fui, o céu azul, o sol intenso, e tudo que então brilhava, os bichos, o quintal da avó, o pé de romã, o branco, o limpo, o simples, e meu coração.
Meu coração que não tem importância alguma. É só uma pequena parte de todo o amor que você ainda vai receber da vida, das pessoas, talvez de um céu claro de tarde, apenas uma pequena parte de todo amor que você vai receber escondido, gratuito, e secreto, ou gritado, e duramente arrancado, da vida.
Mas é tudo que tenho, meu coração branco e limpo, e pulsando. É com ele, e dentro, e invisível, que eu te amo. É tudo que tenho para você, para te fazer alegre com meu coração batendo, e com meu coração te guardar da noite ou dos perigos.
É ínfimo e íntimo, imperceptível como um vento nos galhos, ou um acariciar de asa no vazio: o meu coração, com o amor batendo.

juliana brina

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