Resolvi olhar o amor com olhares obscenos. Tem mais a ver com prazer, com repousar o coração num lugar tranquilo, ainda que por apenas uma noite. Ninguém precisa ser o futuro de ninguém, isso assusta demais, convenhamos. As coisas acontecem no agora? Nele permanecerei. No agora é onde consigo sentir. Consigo preparar receitas para que sejam descumpridas, recheadas de pitadas desconhecidas. O amor pode chegar deslizando as alças do meu vestido, ensaboando meu corpo, acariciando minhas formas, tatuando minha virilha, gemendo sob minha pele suada, sufocando minha voz com beijos a me queimar a língua enquanto fuma meu hálito. Ou pode não chegar, também.
Você sabe, deve haver um feeling qualquer, porque a solidão, ma belle, essa não se esvai com meras trepadas. E eu nunca fico. No máximo a TV permanece ligada enquanto desenhos animados brincam com a vida de lá. Eu me mando, a ressaca fica. Eu me mando para respirar, abrir a geladeira, medir meu desespero em qualquer garrafa.
O amor, todavia, insiste num balé de cheiros impregnantes. Disfarça, rodeia, mas gruda em cada dobrinha. E daí a gente finda tomando um banho juntos, escorre juntos. Ele escorrega e fim: sobram uns risos convulsivos. Talvez, ainda, eu faça uns malabarismos com as pernas, arrisque uma pose de mocinha psicótica, daquele jeito, com um explosivo em cada olho, suba na mesa, arremesse uma taça. Só para chamar a atenção. Só pro meu prazer. Porque, não é de agora, palavras bonitas não me emocionam. Eu preciso de reações, me rasgar na cama enquanto Luiz Melodia grita que baby, te amo, nem sei se te amo…
Me ocorre agora, veja bem, tudo se dissolve. Você pode achar que não tem sentido. Mas, honestamente, o que tem sentido? A busca louca pelo amor geralmente resulta em pernas abertas e desencontros. Em outros casos tem-se um cigarro e olhares para o teto. Não mais, não menos, mas também.
O amor é um interlúdio. O amor, ma belle, é fodido. E nem por isso deixa de ser amor.
jaya magalhães viana
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